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Revista Leituras Cristãs

Conteúdo cristão para edificação

A Assembléia (Parte 7)

A ASSEMBLÉIA

 

Capítulo 7

A IGREJA COMO CASA DE DEUS SOB RESPONSABILIDADE DO HOMEM

 

No capítulo anterior, procuramos extrair das Escrituras a verdade acerca da Casa de Deus conforme concebida na mente divina. Conhecemos o propósito de Deus de habitar entre os homens e a responsabilidade que os homens têm em conexão com essa habitação de Deus.

Agora é o momento de perguntar: “Tem o homem cumprido as suas responsabilidades?”. Lamentavelmente, a história mostra que, ao longo das eras, o homem falhou em sua obrigação — tanto mais alto o privilégio e ampla a responsabilidade, maior a queda. Assim, em nada o fracasso do ser humano é tão evidente quanto com relação à Igreja vista como Casa de Deus sobre a terra.

Para poder avaliar a verdadeira extensão desse fracasso, é essencial obter uma clara visão da Casa de Deus conforme o plano divino original. Na época em que os filhos de Israel amargavam no cativeiro por haverem falhado em manter a santidade da Casa de Deus, o profeta Ezequiel recebeu ordem de mostrar “à casa de Israel este templo, para que ela se envergonhe das suas iniqüidades; e meça o modelo” (Ezequiel 43:10). Só então o povo teria consciência do quanto se haviam afastado dos padrões divinos.

Como vimos na história de Jacó, a responsabilidade do homem com relação à Casa de Deus estava representada pela “porta” e pela “coluna”. O significado da “porta dos céus” aponta para Deus e expressa o privilégio e a responsabilidade de nos aproximarmos dEle em oração e louvor. O significado da “coluna” ungida com óleo aponta para o ser humano e expressa a responsabilidade de manter um testemunho verdadeiro diante dos homens. Temos falhado nos dois aspectos: não temos usado adequadamente a “porta dos céus” e, conseqüentemente, não erigimos a nossa coluna. Falhamos na oração e na dependência de Deus. Portanto, falhamos no testemunho perante os homens.

Outro aspecto essencial para que a Casa de Deus seja a verdadeira expressão da Divindade é a necessidade de manter as características distintivas da Casa. O propósito de todas essas características é dar expressão do próprio Deus. A santidade da Casa precisa ser mantida a fim de que haja verdadeira manifestação de Deus. Sabemos também que as orações devem ser feitas a favor de “todos os homens”, pois isso expressa o desejo de Deus — que todos sejam salvos. As mulheres devem distinguir-se pela modéstia e pelas “boas obras”, as quais manifestam a bondade de Deus aos homens. Dessa forma, a Casa de Deus também será caracterizada pelo cuidado com o corpo e com a alma, e todos poderão ver que Deus se preocupa com o bem-estar do ser humano.

Por fim, a Casa de Deus deve caracterizar-se pela “piedade” (1 Timóteo 3:14-16). É óbvio que somente o comportamento piedoso é apropriado à Casa de Deus. E, quando notamos que o propósito é a expressão de Deus, torna-se claro que a piedade consiste em uma vida que manifeste Deus — não uma vida meramente religiosa ou marcada pela afabilidade ou benevolência que qualquer ser humano tem a capacidade de exibir. A vida piedosa é vivida no temor de Deus e, portanto, é uma vida que expressa Deus.

O segredo desse tipo de vida repousa na busca do padrão de piedade demonstrado por Cristo. Por essa razão, nos versículos finais do terceiro capítulo de 1 Timóteo, o apóstolo apresenta um resumo notável da vida de Jesus — da encarnação à ascensão —, na qual o Espírito de Deus enumera uma série de grandes fatos que expressam claramente a Deus. O Deus “manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória”. Esses são fatos que revelam o coração de Deus ao homem. Assim, aprendemos com Cristo o segredo da piedade ou da vida que manifesta a presença de Deus — da vida que expressa Deus.

Que maravilhosa imagem de Deus a Igreja apresentaria ao mundo se mantivesse todos os princípios dessa Casa! O mundo iria ver com um povo identificado pela santidade, pela dependência de Deus, pela sujeição à autoridade, pelas boas obras e pelo cuidado para com o corpo e a alma. Eles iriam ver a prática de princípios inteiramente opostos aos que predominam no mundo decaído e, mais que isso, teriam ciência dos propósitos de Deus para com o ser humano. Infelizmente, é notório, sob qualquer perspectiva, que os que constituem a Casa de Deus fracassaram. Nós fracassamos em manter os grandes princípios da Casa de Deus e, por conseguinte, fracassamos em apresentar ao mundo uma verdadeira expressão de Deus.

Qual a causa desse fracasso? Uma olhada para a história de Israel e o seu mau êxito com relação à Casa de Deus talvez possa revelar o motivo de também havermos fracassado. Deus ordenou que o profeta Ezequiel falasse “aos rebeldes, à casa de Israel: Assim diz o Senhor Deus: Bastem-vos todas as vossas abominações, ó casa de Israel! Porquanto introduzistes estrangeiros, incircuncisos de coração e incircuncisos de carne, para estarem no meu santuário, para o profanarem em minha casa [...] Não cumpristes as prescrições a respeito das minhas coisas sagradas; antes, constituístes em vosso lugar estrangeiros para executarem o serviço no meu santuário” (Ezequiel 44:6-8). Temos aqui três acusações categóricas: introdução de pessoas estranhas na Casa de Deus, fracasso na manutenção da santidade da Casa e uso da Casa de Deus para propósitos particulares.

Essa triste história não parece repetir-se na presente dispensação? No dia de Pentecostes, não havia “estrangeiros” entre os que passaram a constituir a Igreja após a descida do Espírito Santo — eram todos verdadeiros filhos de Deus. Também não havia “incircuncisos de coração” entre os três mil que em seguida foram acrescentados à Igreja pelo Senhor. Eram todos crentes verdadeiros. Mas logo apareceu um “estrangeiro” — Simão, o mago, que pelo batismo foi introduzido no lugar da habitação do Espírito de Deus, mas nunca teve parte com Ele realmente. Não demorou, e outros o seguiram. Como resultado, ainda nos dias dos apóstolos, a Casa de Deus tornou-se semelhante à casa em que “não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra” (2 Timóteo 2:20). Assim, tal qual o Israel antigo, a santidade da Casa não foi mantida, e os homens passaram a utilizá-la para fins pessoais, “ensinando coisas que não deviam, motivados basicamente pelo lucro” (Tito 1:11, JND). O mal dos dias apostólicos foi aumentando com o passar dos séculos, até estes últimos dias, em que uma multidão de credos sem vida estigmatiza a Casa de Deus com uma piedade sem poder (2 Timóteo 3:1-5).

Qual seria, então, a conseqüência do fracasso do homem em sua responsabilidade? Tal como no caso de Israel, o mal que adentrou a Casa de Deus clama por julgamento. “A ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada” (1 Pedro 4:17).

Para Israel, esse dia chegou. Foi quando o Senhor se recusou a reconhecer o Templo como a Casa de Deus. Ele se referiu a ela dizendo: “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” (Mateus 23:38; grifo do autor). Os verdadeiros filhos de Deus ligados ao Templo foram incorporados à Igreja, e a “casa deserta” foi submetida a julgamento. No entanto, a Igreja, como Casa de Deus, também incidiu em corrupção. E, muito em breve, os que pertencem a Deus serão arrebatados para se encontrar com o Senhor nos ares e uma grande multidão de credos sem qualquer relação com a Casa de Deus irão passar por julgamento.

Seria, então, a intenção de Deus de habitar entre os homens frustrada pelo fracasso humano em cumprir as suas responsabilidades? Absolutamente não! Nenhum lapso de tempo, mudança de dispensação, fracasso do povo de Deus, oposição do Inimigo ou poder da morte conseguirá dissuadir a Deus de seus propósitos.

No momento em que um povo redimido está assegurado, Deus manifesta o desejo de habitar no meio deles (ver Êxodo 15:13,17; 29:45). O Tabernáculo no deserto e o Templo na Terra Prometida dão testemunho desse sentimento acalentado por Deus. E, apesar de o povo fracassar e negligenciar a Casa de Deus, de o Templo ser destruído e de eles serem levados para o cativeiro, em momento algum Deus retrocedeu no propósito de habitar no meio de Seu povo. Ele trouxe de volta um remanescente para reconstruir a Sua Casa. Todavia, estes também falhram e por sua vez foram dispersos entre as nações. Quanto à Casa de Deus, não restou pedra sobre pedra.

Não obstante, Deus prosseguiu em Seu glorioso intento. Elevando-se acima de todo o fracasso humano, revelou novos segredos que estavam em Seu coração e trouxe à luz a “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”. Porém, novamente o homem falhou em sua responsabilidade, transformando em ruínas a Casa de Deus. Embora caracterizada pela santidade, ela tornou-se semelhante a uma habitação comum, uma grande casa na qual existem vasos para honra e vasos para desonra.

Um pequeno remanescente poderá, de fato, separar-se dos vasos de desonra com o propósito de retornar aos valores morais da Casa de Deus e caminhar de acordo com os princípios que a governam. Mas eles também falharão, e a história de responsabilidade do homem será encerrada com o julgamento que começa pela Casa de Deus. Contudo, apesar do fracasso humano, seja no antigo Israel, seja na Igreja de hoje, Deus permanece fiel aos seus propósitos e descortina diante de nós a visão de outra Casa, na dispensação milenial, e “a glória desta última casa será maior do que a da primeira”.

Contudo, até mesmo essa Casa um dia passará, pois a gloriosa era milenial terminará em sombras e juízo. Mas Deus jamais desistirá de Seus propósitos, pois passados os julgamentos das nações e do grande trono branco, nos são apresentados “novos céus e nova terra”, e, no desenrolar dessa bela cena, vemos a “nova Jerusalém, que desce do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo”, e ouvimos uma “grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles”.

Em nossa enumeração, viajamos para além dos limites do tempo, com todas as suas mudanças e fracassos, e alcançamos a eternidade com os “novos céus e nova terra”. Chegamos a uma cena em que todas as lágrimas são enxugadas, ao tempo em que “a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram”.

Ali, finalmente, vemos cumpridos os propósitos de Deus revelados através das eras, não mais frustrados pelo poder do Inimigo ou pelo fracasso dos santos.

 

Hamilton Smith

 

"Estudos sobre a palavra de Deus” - Apocalipse 8, 9, 10 e 11


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