A ESPERANÇA CRISTÃ
UMA PANORÂMICA DIDÁTICA DA PROFECIA – (2.a)
A GRANDE TRIBULAÇÃO
"Ah, agora, o senhor acaba de voltar ao nosso ponto de partida. O senhor afirmou que um remanescente de Israel iria se converter, após a Igreja ser retirada da terra. Eu imagino que o senhor também é daqueles cristãos que acham que a Igreja há se ser arrebatada antes da grande tribulação."
"Certo, pois a 'grande tribulação' da qual o senhor fala não é, de modo algum, destinada à Igreja, antes, justamente para o remanescente de Israel, e de algum modo também ocorrerão, sob a previsão de Deus, juízos sobre os judeus não convertidos, sim, sobre todos os povos."
"Veja, este é exatamente o ponto com o qual já tive tantas dificuldades e por isso rejeitei a doutrina do arrebatamento da Igreja. Eu espero que o senhor possa me comprovar, pela Palavra, que a Igreja não há de passar pela grande tribulação. Eu nunca ouvi uma passagem sequer que sustentasse esse pensamento."
"Bem, -eu logo lhe cito uma.
Vou lê-Ia em sua própria Bíblia. Aqui em ApocaIipse 3, 10 o Senhor Jesus diz à Igreja em Filadélfia: 'Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.' Esta é apenas uma passagem, mas ela já basta para demonstrar que a Igreja não passará pela grande tribulação; ela será guardada."
"Eu logo imaginei que o senhor se basearia em Apocalipse 3,10; mas este verso não comprova nada, pois o que esta passagem quer dizer é que o Senhor guardará os crentes, quando eles estiverem em provação."
"Aqui nem se pode tratar de tal coisa! O senhor não está lendo bem. Primeiramente, aqui não está escrito que o Senhor guardará os seus 'na' tribulação, mas 'da' tribulação. É completamente diferente. O primeiro significa que Ele conduzirá seguramente os seus quando estiverem em provação; já o segundo significa que o Senhor zelará para que os seus nem venham a entrar em provações. Em segundo lugar, não está escrito que ele livrará os seus das provações em geral, mas da 'hora da provação'. Esta não é uma ocasião qualquer, mas a hora específica da provação que Cristo predisse haveria de vir sobre toda a terra. E é dessa hora, diz o Senhor, que os seus serão guardados, ou seja, nem hão de passar por ela. E como é que o Senhor realizará isso? Na seqüência do mesmo verso lemos: 'Venho sem demora' - eis a explicação! A hora da provação compreende todo o período descrito em Apocalipse 5 a 9; dessa hora somente se estará guardado, quando retirado da terra antes desse tempo."
"E mesmo assim ta I coisa não pode ser verdade. Nós falamos acerca da grande tribulação, e Apocalipse 7,13 menciona claramente que os crentes de vestiduras brancas procedem da grande tribulação; lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro!... Mas, espere aí, eu acho que agora estou entendendo; o senhor provavelmente vai dizer que os crentes de Apocalipse 7 não pertencem à Igreja, mas que se trata de um outro grupo de pessoas que ainda estará vivendo sobre a terra após o arrebatamento da Igreja?"
"Exatamente! Pois não pode haver discordância entre ApocaIipse 3, 10 e 7, 14, não é?
"Sim, claro que não, mas o Senhor ainda precisa me comprovar que no capítulo 7não se trata da Igreja. "
"Sim, vou procurar fazê-lo.
Vamos pois ao começo do livro de Apocalipse, aonde encontramos a 'chave' para a sua compreensão. Lemos no capítulo 1, 19, que Cristo incumbe João da tarefa de escrever o livro, e escrevê-lo em três divisões básicas: 'Escreve, pois (a) as coisas que viste, (b) e as que são, e (c) as que hão de acontecer depois destas.' A primeira: 'as cousas que viste', refere-se logicamente à visão daquilo que João descreve no capítulo 1. A segunda: 'as que são', é a circunstâncias em que se encontra a cristandade relatada nas cartas às sete igrejas; nos capítulos 2 e 3. E a terceira parte: 'as que hão de acontecer depois destas', começa no capítulo 4, onde lemos no verso 1: 'depois destas cousas olhei, e eis ... a voz ... que ouvi... dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas cousas: Agora compare a parte (b) com a (c). Está claro que na segunda parte a Igreja ainda se encontra sobre a terra. Mas como o Apocalipse é um livro profético (cap. 1, 3) estes capítulos 2 e 3 também são proféticos; constituindo muito claramente uma visão profética da história do cristianismo, visto como um testemunho responsável e falho sobre esta terra. A este testemunho também está arrolada a verdadeira Igreja. E, finalmente, a terceira parte (compreende todo o livro de Apocalipse a partir do capítulo 4) fala daquilo que há de acontecer depois destas cousas, ou seja, após a Era Cristã, após o arrebatamento da verdadeira Igreja - o que está muito claro, pois a partir do capítulo 4 já vemos a Igreja glorificada nos céus!"
"Mas para comprovar Isto, o senhor ainda precisa mostrar que F} a partir do capítulo 4 a Igreja está glorificada nos céus e 2!J} que os crentes que, neste tempo hão de estar sobre a terra,não pertencem á Igreja."
A IGREJA NO CÉU
"O senhor acertou em cima!
Para mim, não há dúvidas que 1 Q) os crentes ressuscitados e glorificados da Igreja estão subentendidos nos '24 anciãos' mencionados a partir do capítulo 4; 22) a partir do capítulo 4, nós não encontramos mais crentes com as características de pertencerem à Igreja; pelo contrário, agora nos são apresentados grupos muito distintos de crentes: os 144.000 seladas das doze tribos de Israel e uma multidão que não se pode enumerar, de todas as nações (cap. 7). Também lemos daqueles que adoram no templo, isso não acontece num templo espiritual, mas na cidade na qual 'o seu Senhor foi crucificado'. Jerusalém volta então novamente a ser o centro dos cultos a Deus, (o que) não está mais em conformidade com a posição e o culto característico da Igreja."
"Eu entendi esta segunda parte, mas não concordo com a primeira. Eu acho que os 24 anciões representam os crentes adormecidos, que já se encontram no céu (enquanto os seus corpos ainda permanecem na sepultura), ao passo que os crentes pertencentes d Igreja que ainda vivem, estão sobre a terra. "
"Esta interpretação é facilmente contestável. Não há dúvidas de que aqui se trata de santos glorificados, pois trajam vestidos brancos e trazem coroas douradas sobre suas cabeças. Sua situação contrasta com a de outros crentes, que embora adormecidos, ainda não foram ressuscitados; estes são ‘as almas debaixo do altar' em Apocalipse 6, 9. Além disso, o número 24 (2 x 12) indica fortemente a uma unidade, não dando espaço à interpretação de que os anciãos seriam somente parcela da Igreja, enquanto a outra parte ainda está na terra. Os 'anciãos' também não poderiam ser os anjos, pois eles estão cuidadosamente discriminados (5, 11; 7,11); além disso, os 'anciãos' têm o caráter, mencionado no capítulo 1,6, de reis (tronos e coroas *) e de sacerdotes (vestes brancas, intercessão; 5, 8).
* Aliás estas coroas não são representativas de um governo, como a coroa (Diadema)de Cristo (Ap. 19,12) o é; mas a palavras STEFANOS empregada no original grego para a coroas do cap. 4:4; representa uma coroa de vitória-a recompensa pelo desempenho do crentes em sua vida terrena.(1ª Co 9,25; 2ª Tm 4:8; Tg 1:12; 1ª Pe 5,4; Ap 2.10 e 3,11).
Não, o que vemos aqui é a Igreja glorificada com Cristo no céu. E também nos capítulos seguintes, continuamos a vê-Ia no céu, enquanto uma outra classe de crentes se encontra sobre a terra (7,11 e 13 e 14; 11,16-18; 14,3; 19,4)."
"É,... eu vejo que se analisarmos o livro de Apocalipse sob uma luz mais Intensa, surgem alguns problemas quanto d minha Interpretação - supondo que o seu pensamento está correto. Eu ainda preciso de uma reflexão mais profunda, antes do concordar com a sua versão."
"Isto é necessário e certo. O Senhor não pode crer baseado em minhas palavras, mas deve examinar as Escrituras, para ver se as cousas são de fato assim, tal como os crentes de Beréia o faziam diariamente. Mas eu creio que o senhor descobrirá que ainda há uma série de considerações a se fazer contra a interpretação que o Senhor me apresentou. Digo inclusive que é tão artificial, que se toma impossível sustentá-la - espero ao menos ter conseguido mostrar=lhe isso."
"Pode ser ... Mas, me diga, se a Igreja realmente for arrebatada antes da grande tribulação, e, em seguida, ocorrerem uma série de acontecimentos sobre a terra (entre outros a conversão de um remanescente de Israel) e depois Cristo voltar com sua Igreja dos céus; não deveria pois, haver mais evidências na Escritura por se tratar de uma doutrina tão Importante?"
"Mas há! Especialmente nas cartas de Paulo aos TessaIonicenses. Lemos, como sendo um princípio geral, em lBTs 1, 10: ' e esperar dos céus a seu Filho Jesus, que nos livra da ira vindoura. ' Já notamos aqui ser incorreto o pensamento de que ainda haveríamos de padecer, uma mínima parcela que fosse, sob os juízos de Deus. Esta 'ira vindoura' se refere ao período de tempo em que serão executados os juízos de Deus (veja Mt 3,7; Ro 2,5; Ap 6, 16 e 17). Nós temos a vida eterna e não entraremos em juízo, mas passamos da morte para a vida (Jo 5, 24). Certamente virão duros juízos sobre esta terra, nós porém esperamos a vinda do Senhor Jesus, que nos livrará de toda a manifestação da ira de Deus, que há de ocorrer no futuro. Atente bem: o nosso verso não afirma que ele nos livrará dentre a ira vindoura, mas da ira vindoura, o que quer dizer que nem sequer havemos de padecer sob essa ira. Quando Deus manifestar a sua ira - especialmente sobre Israel; contra o qual a sua ira já sobreveio definitivamente (11 Ts 2, 16) -, a Igreja já estará em paz e segurança nos céus. "
" ... Voltando depois com ele do céu, não é? Como o senhor citou há pouco em 1M Ts 3,13."
"Exatamente; e assim como para o senhor foi difícil entender, também o foi para os Tessalonicenses. Eles não entendiam duas coisas:
a) como Cristo poderia voltar junto com os crentes do céu; e b) o que iria acontecer com os seus queridos que morreram, quando Cristo viesse. Essas duas questões Paulo responde no capítulo 4, 13-18.
Resumindo, pode-se afirmar que a resposta a tais questões é: a) antes que Cristo volte dos céus juntamente com os santos, Ele virá para tomar os santos para si;b) quando Cristo voltar com a Igreja, não deixará de vir também
com aqueles que dormem no Senhor, pelo contrário: Deus, mediante Jesus, trará juntamente em sua companhia os que dormem. Mas como será possível? Será, pois, quando o Senhor Jesus voltar para tomar a Igreja para si, que Ele não arrebatará somente os crentes viventes sobre a terra: os crentes que dormem ressuscitarão primeiro. Naquele momento, por um instante, toda a Igreja, completa, estará presente sobre a terra: os mortos ressuscitados e os vivos que ficaram até à vinda do Senhor, todos juntos, unidos. E todos juntos seremos então arrebatados para o encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor."
"Algo ainda não está bem claro. Os crentes que dormem, e que ressuscitarão, receberão um corpo glorificado, Imagino. Mas o que acontecerá com aqueles que vivem? Eles não poderão entrar nos céus com os seus corpos mortais, não é?”
RESSURREIÇÃO E TRANSFORMAÇÃO
"Não. É certo que não; Paulo diz em 11 Co 15, 50, que carne e sangue não podem herdar o reino de Deus, nem a corrupção herdar a incorrupção. E continua, explicando como os crentes que vivem poderão adentrar no céu, quando da vinda do Senhor: 'Eis que vos digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A -trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados.' (versos 51 e 52). A "última trombeta", sem dúvida, é a mesma 'trombeta de Deus' em 1ªTs4, 16; além disso, também, encontramos aqui uma menção, que tínhamos visto em 11 Ts 4, ou seja, que os mortos (leia-se os 'mortos em Cristo'!, veja 11 Co 15,23 e li! Ts 4,16) ressuscitarão incorruptíveis. Mas, então, aprendemos algo novo de 11 Co 15, pois, também acontecerá algo com os crentes que estão vivos: eles serão transformados; o verso 53 nos esclarece o significado disso: 'Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. "
Assim, também, vemos em 21 Co 5, 24: 'aspirando por ser revestidos da nossa habitação celestial... pois na verdade, os que estamos neste tabemácu10 gememos angustiados, não por querermos ser despidos (adormecendo no Senhor, deixando o nosso corpo), mas revestidos (quando do arrebatamento da Igreja), para que o mortal seja absorvido pela vida.' Em Fp. 3,2021, Paulo nos relata o quão maravilhoso será este corpo, novo e transformado: Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de subordinar a si todas as cousas.' Os nossos novos corpos serão tão gloriosos quanto o corpo glorificado do Senhor Jesus: nós seremos semelhantes a Ele (11 Jo 3,2)."
"Este tema é maravilhoso! Mas talvez o senhor ainda possa oo1tar à pergunta que ainda me traz alguma dificuldade, ou seja, se a Igreja será arrebatada antes da grande tribulação. "
"Ela está muito oportuna, pois na seqüência da análise das cartas aos Tessalonicenses nós havíamos chegado a 111 Ts 5. Aqui Paulo retoma sua argumentação, tratando inclusive esta sua questão. Na verdade, o capítulo 4, 15-18 seria uma introdução à esta argumentação. Pois, no restante da carta, aborda-se basicamente o tema da volta de Cristo junto com os crentes (3, 13; 4, 14); assunto que o apóstolo detalha no capítulo 5. Tal como o Senhor Jesus em At 1, 7, Paulo diz aqui que não há nada o que relatar quanto 'aos tempos e às épocas', pois pelo Antigo Testamento eles já sabiam o suficiente acerca do assunto (enquanto necessitavam, por outro lado, de instrução especial relativa ao arrebatamento da Igreja: 4, 15! pois isto era um mistério; 11 Co 15, 51). Aliás, a relação com At 1 é muito interessante, pois a vinda do Senhor Jesus com os seus santos também é o momento no qual Ele instaurará novamente o reino para Israel (At I, 7). Isto eu disse somente à parte. O essencial em 11 Ts 5 é: o que caracteriza a aparição de Cristo é que este virá como um ladrão.
Mas ... jamais é dito à Igreja que esperasse tal dia de juízo do Senhor, dia que virá como um ladrão repentino e inesperado. Pelo contrário, os versos 3 a 5 se referem aos homens do mundo: 'Quando andarem dizendo: paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vem a dor do parto à que está para dar à luz, e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse dia como ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois filhos da luz, e filhos do dia' (versos 2-5)."
"Um momento, Isso poderia significar que existe a possibilidade dos crentes ainda participarem do derramamento desses juízos sobre a terra; mas que tais juízos não seriam para eles tão repentinos e Inesperados?"
A Esperança Cristã - Uma panorâmica didática da Profecia (2.b)