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Revista Leituras Cristãs

Conteúdo cristão para edificação

Eclesiastes 1:12 - 2:26

Eclesiastes 1:12 - 2:26

Após uma introdução abstrata, o Pregador fala de uma experiência tão pessoal que poderíamos dizer que é autobiográfica e ao mesmo tempo tão abrangente que contempla toda a vida humana. Isso é demonstrado de forma ininterrupta e evidente na porção que se segue:

Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em Jerusalém. E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar. Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito. Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.

Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento. E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor. Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade. Ao riso disse: Está doido; e da alegria: De que serve esta? Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne (regendo porém o meu coração com sabedoria), e entregar-me à loucura, até ver o que seria melhor que os filhos dos homens fizessem debaixo do céu durante o número dos dias de sua vida. Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto. Fiz para mim tanques de águas, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias; provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie¹.

E fui engrandecido, e aumentei mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria. E tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o meu coração de alegria alguma; mas o meu coração se alegrou por todo o meu trabalho, e esta foi a minha porção de todo o meu trabalho. E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que eu, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol. Então passei a contemplar a sabedoria, e a loucura e a estultícia. Pois que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram. Então vi eu que a sabedoria é mais excelente do que a estultícia, quanto a luz é mais excelente do que as trevas. Os olhos do homem sábio estão na sua cabeça, mas o louco anda em trevas; então também entendi eu que o mesmo lhes sucede a ambos. Assim eu disse no meu coração: Como acontece ao tolo, assim me sucederá a mim; por que então busquei eu mais a sabedoria? Então disse no meu coração que também isto era vaidade. Porque nunca haverá mais lembrança do sábio do que do tolo; porquanto de tudo, nos dias futuros, total esquecimento haverá. E como morre o sábio, assim morre o tolo! Por isso odiei esta vida, porque a obra que se faz debaixo do sol me era penosa; sim, tudo é vaidade e aflição de espírito. Também eu odiei todo o meu trabalho, que realizei debaixo do sol, visto que eu havia de deixá-lo ao homem que viesse depois de mim. E quem sabe se será sábio ou tolo? Todavia, se assenhoreará de todo o meu trabalho que realizei e em que me houve sabiamente debaixo do sol; também isto é vaidade. Então eu me volvi e entreguei o meu coração ao desespero no tocante ao trabalho, o qual realizei debaixo do sol. Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, conhecimento, e destreza; contudo deixará o seu trabalho como porção de quem nele não trabalhou; também isto é vaidade e grande mal. Porque, que mais tem o homem de todo o seu trabalho, e da aflição do seu coração, em que ele anda trabalhando debaixo do sol? Porque todos os seus dias são dores, e a sua ocupação é aflição; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade. Não há nada melhor para o homem do que comer e beber, e fazer com que sua alma goze do bem do seu trabalho. Também vi que isto vem da mão de Deus. Pois quem pode comer, ou quem pode gozar melhor do que eu? Porque ao homem que é bom diante dele, dá Deus sabedoria e conhecimento e alegria; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte, e amontoe, para dá-lo ao que é bom perante Deus. Também isto é vaidade e aflição de espírito (Eclesiastes 1:12-18; 2:1-26).

O que torna essa passagem peculiar é a posição pessoal do Pregador. Se a isenção do sentimento de miséria, na busca do homem como ele é na terra, pudesse ser a porção de qualquer um, poderíamos imaginar que esta foi o destino do rei Salomão.

Não se trata de falta de poder, de interesse ou de pesquisa, nem mesmo de capacidade ou de recursos.

Por meio da sabedoria, ele entregou o coração à busca e investigação de tudo que existe debaixo dos céus. A sensação de inutilidade e a tristeza por causa desse mal foram ainda maiores para aquele que poderia apreciar tudo melhor que qualquer outro.

O que começou pensando ser verdade apenas confirmou como fato em sua experiência:

“Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito”.

De alguma forma, havia morte na panela. Havia tortuosidade aqui, falha ou defeito lá.

Não era assim antes de o pecado entrar no mundo. Pelo contrário, Deus viu tudo que havia feito, e era muito bom. Depois que o pecado se instalou, Deus fez com que o mal fosse sentido, e a consequência é exposta aqui pelo tipo mais notável dAquele que ainda está por vir em poder, glória e justiça, quando trará os dias do céu sobre a terra, estações de refrigério vindos da face do Senhor — não apenas testemunhos, como vemos agora, de coisas ainda mais elevadas para os céus, mas de profecia plenamente cumprida no tempo da restituição de todas as coisas. A honra está reservada Àquele que é digno e que derrotou Satanás; Aquele que cumpriu a vontade de Deus no universo e para o universo; o Reconciliador não só de nós, os que cremos, mas de todas as coisas, naquele dia e para sempre.

Muito diferente da presente era, na qual o irregular e o defeituoso prevalecem de uma forma poderosa demais para o homem, quando o tempo de Deus ainda não chegou.

E, nesse meio-tempo, a miséria é sentida integralmente e expressa em detalhes. A vasta experiência de sabedoria e conhecimento de Salomão apenas roçou a ferida, tanto por parte da sabedoria a ser cultivada quanto por parte da loucura e da tolice a ser evitada.

Isso ele também achou ser correr atrás do vento, “porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor” (Eclesiastes 1:12-18).

Em seguida, ele provou a alegria e o alívio natural dos amargurados, como lemos em Provérbios 31. Mas foi tudo em vão, e o sentimento de decepção retornou (Eclesiastes 2:1-3).

Será que o empenho na realização de grandes obras seria mais bem-sucedido? Foi isso que Salomão planejou e pôs em prática com diligência e esplendor extraordinários.

Entretanto, depois de rever tudo que construiu e todo o esforço que empreendeu, não encontrou alívio em nada daquilo. Tudo era vaidade e aflição de espírito, sem proveito algum debaixo do sol (Eclesiastes 2:4-11). Suas reflexões então concentraram-se na sabedoria, na loucura e na insensatez, pois ele sabia que o sucessor do rei sentiria a mesma coisa. Na melhor das hipóteses, seria uma repetição da busca inútil por satisfação nas coisas aqui de baixo. Ainda assim, ele reconhecia uma vantagem da sabedoria sobre a insensatez, tão grande quanto a da luz sobre a escuridão. Ainda assim, se o resultado era o mesmo, tudo não passava de uma grande ironia!

Foi isso que ele concluiu. E logo tudo seria igualmente esquecido aqui em baixo: o sábio morreria da mesma forma que o tolo. Portanto, ele sentia desgosto pela vida e desprezo pelo seu trabalho, especialmente porque tudo seria deixado para o seu sucessor — e quem poderia afirmar que ele seria sábio ou tolo? No entanto, esse homem iria dominar sobre tudo que ele realizara e usufruir do fruto de sua sabedoria debaixo do sol. Isso também era vaidade.

Uma sensação de angústia tomou conta de todas as suas realizações ao pensar em um herdeiro indigno. O que lhe restava senão dor e aflição no trabalho, que mesmo à noite não dava descanso ao seu coração? Também não era isso vaidade? (Eclesiastes 2:11-23).

A conclusão a que se chega nos versículos de 24 a 26 é que devemos receber com gratidão o que vem da mão de Deus. É Ele quem dá ao homem que é bom aos Seus olhos sabedoria, conhecimento e alegria, mas ao pecador cabe o trabalho de acumular e armazenar bens para entregá-los àqueles de quem Deus se agrada.

E o que é isso, senão vaidade e aflição de espírito?

¹ As discrepâncias nas traduções são extraordinárias. J. Leeser diz: “carros e carruagens”; outras dizem: “mulheres e concubinas”; a Septuaginta diz: “um mordomo e copeiras”; a Vulgata diz: “jarros e vasos”; e assim prossegue a busca exaustiva pela melhor tradução.


 


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