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Revista Leituras Cristãs

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Encontros no Poço

Encontros no Poço

“E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea… Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; e da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.”

(Gênesis 2:18,21-25)

No Antigo Testamento, destacam-se três casais que tiveram o seu encontro junto a um poço. Tendo como base esses encontros, iremos destacar princípios importantes que são válidos para o matrimônio cristão e refletir sobre eles.

Vivemos numa época em que a ordem que Deus estabeleceu na criação é desprezada cada vez mais e muitas vezes rejeitada totalmente. Então, haja visto que vivemos em dias assim, será oportuno recapitularmos estes princípios que Deus estabeleceu.

Certa vez, o Senhor Jesus foi indagado pelos fariseus se era lícito ao homem divorciar-se da sua mulher. Em Sua resposta, o Senhor apontou para o que era “desde o princípio da criação”, citando a conhecida passagem de Gênesis 2:24:

“Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”.

O Senhor Jesus quer que as pessoas atentem para a — tão desconsiderada — ordem da criação. Afinal, ela foi estabelecida por Deus para a benção da humanidade!

Alguns dizem, e com toda razão, que Gênesis 2:18-25 é a “carta magna” do matrimônio. Ela contém elementos essenciais que são importantes até hoje. Por exemplo:

  • “Não é bom que o homem esteja só.”

    Deus, em Sua graça, faz provisão para a solidão do ser humano.

  • “Far-lhe-ei uma ajudadora idônea.”

    Deus sabe, melhor que todos, quem “combina” com quem, e é capaz de compensar as carências de um homem e de uma mulher.

  • Deus trouxe Eva para Adão — é Deus que junta duas pessoas.
  • “Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe.”

    Deus dispensa o homem da posição de submissão, que ocupava até agora. Daqui em diante, no matrimônio, ele assume a condução e a autoridade.

  • “[O homem] apegar-se-á à sua mulher.”

    Deus une duas pessoas nos laços do amor, e o que Deus uniu, o homem não deve separar.

  • “E serão ambos uma carne.”

    A unidade no matrimônio abrange o ser humano em sua totalidade. É uma feliz comunhão de espírito, alma e corpo.

Infelizmente, esta ordem estabelecida por Deus, para a benção dos seres humanos, foi logo contrariada pelo pecado.

Água do poço ― uma figura da Palavra de Deus

No Antigo Testamento são citados vários poços. Estes eram extremamente necessários para prover água. De especial valor eram aqueles que eram abastecidos por um veio subterrâneo e, por essa razão, sempre continham água fresca.

Em Gênesis 16 temos o poço “Beer-Laai-Rói”. Ali Deus foi ao encontro de Agar, que andava errante pelo deserto. O nome desse poço tem duplo significado: “Poço do Vivente que me vê” ou “Poço do Vivente, que se deixa ver”. É uma referência especialmente bonita à Palavra de Deus, que é viva. Um conhecido expositor o descreve nos seguintes termos:

Beer-Laai-Rói: Palavra divina; revelação do Pai e do Filho; fonte onde O invisível pode ser contemplado; água fresca que satisfaz a sede da alma; fonte na qual se encontra conselho e direção”.

Porém, ao refletirmos acerca de alguns encontros que ocorreram em tais poços, devemos ser conscientes que, no decorrer desses matrimônios, nem tudo transcorreu de modo ideal e, portanto, eles não são exemplares para nós em todos os detalhes. Muitos casais do Antigo Testamento não alcançaram o padrão estabelecido “no início” (conforme vimos há pouco). A união de Isaque e Rebeca constitui certa exceção, ao menos no período inicial. Por outro lado, há que se levar em conta que muitos acontecimentos do Antigo Testamento contêm profundos mistérios, que são revelados somente no Novo Testamento.

Neste artigo, no entanto, iremos nos restringir a alguns pontos e aplicações práticas, dos quais queremos aprender. Acrescento ainda que não podemos nem deveríamos ler estes relatos sem sermos sensibilizados em nossos corações pela graça de Deus.

Isaque e Rebeca

Genesis 24 é um capítulo bastante conhecido de muitos leitores da Bíblia. Ali temos referências confiáveis para a escolha da parceira. É claro que os procedimentos habituais daquela época para a escolha da noiva e para a realização do matrimônio não podem ser aplicados literalmente. Ainda assim, devemos identificar, nesse modo de agir, os princípios que devemos praticar ainda hoje.

Abraão conhecia o Deus dos céus e da terra (v. 3) e estava familiarizado com os pensamentos que Deus tinha revelado até então. Por esse motivo, Abraão atribuiu grande valor à união conjugal de seu filho Isaque, fazendo questão que o enlace se enquadrasse nos critérios divinos. Depois de fazer preparativos cuidadosos para uma longa viagem (± 1000 Km), ele envia o seu servo — presume-se que se trata de Eliezer — à sua terra e parentela. Isso expressa, em figura, que a esposa para o seu filho deve ser uma mulher da “família da fé”.

O servo, tendo chegado ao destino, se deparou com a família de Labão, à qual pertencia Rebeca. Inicialmente, ele fica em atitude de espera; ele ora até estar convencido de ter encontrado a esposa que Deus destinou a Isaque. Quão bela é a sua oração:

“E inclinando-me adorei ao Senhor, e bendisse ao Senhor… que me havia encaminhado pelo caminho da verdade” (v. 48).

Rebeca, por sua vez, concorda em ir com o servo para encontrar Isaque. Depois que a família deu seu consentimento (segundo os costumes da época), ambos, o servo e Rebeca, empreendem a longa e penosa viagem de regresso.

O primeiro encontro entre Isaque e a sua noiva, até então desconhecida, acontece nas imediações do poço Beer-Laai-Rói. Repentinamente, Rebeca vê pela primeira vez aquele que seria seu futuro marido. Ela salta do camelo, toma o véu e se cobre. Que comovente significado tem esse gesto: agora sua beleza era destinada apenas para seu marido. O relato termina assim:

“e [Isaque] tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a”.

Esta bela cena de um matrimônio concretizado sob a condução de Deus apenas confirma o princípio na ordem da criação, mencionado anteriormente: quem aproxima e une duas pessoas é Deus! Ele leva a mulher até o homem!

 

Deus faz com que um homem e uma mulher se encontrem!

 

Jacó e Raquel

Gênesis 29 descreve-nos como foi o primeiro encontro entre Jacó e Raquel, sua futura esposa:

“E aconteceu que, vendo Jacó a Raquel… revolveu a pedra de sobre a boca do poço e deu de beber às ovelhas de Labão, irmão de sua mãe. E Jacó beijou a Raquel, e levantou a sua voz e chorou” (vv.10-11).

Para podermos entender um pouco esse ímpeto de sentimentos de tristeza e alegria em Jacó, precisamos voltar um pouco na sua história. Nos capítulos precedentes, a Bíblia relata como Jacó ― para obter o direito de primogenitura ― enganou seu irmão Esaú e o seu pai. No entanto, essa trama era totalmente desnecessária, pois Deus já havia previsto essa benção para ele. Isso também havia sido assegurado à própria mãe pelo anjo:

“o maior [Esaú] servirá ao menor [Jacó]” (Gênesis 25:23).

No entanto, Jacó apelou para o engano. Isso desencadeou tamanha inimizade e ódio no seu irmão Esaú, que este quis assassinar seu irmão.

Os pais então orientaram que Jacó fugisse para o seu tio Labão. Deram-lhe ainda o bom conselho de procurar uma mulher naquele lugar. Seu pai, Isaque, ordenou expressamente:

“Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã” (Gênesis 28:1).

Esse plano dos pais ainda era motivado por outra razão: a lastimável experiência que tiveram com Esaú, que se casou, não com uma, mas com duas mulheres dos heteus ― um povo idólatra. Em poucas palavras a Bíblia constata que “estas foram para Isaque e Rebeca uma amargura de espírito”. Rebeca queria agora, a todo custo, poupar o outro filho de um caminho assim (Gênesis 26:35; 27:46).

Jacó obedece e sai da casa dos pais para ir até a casa do “irmão de sua mãe”. Cansado da longa viagem, ele depara com Raquel junto ao poço. O encontro foi fruto do acaso? Não! Aliás, na nossa vida de fé deveríamos aplicar essa palavra “acaso” com muita cautela. Foi sim o momento determinado por Deus para suprir a carência de um coração triste e solitário.

É de se supor que, ao ver Raquel, Jacó foi dominado por várias recordações da casa paterna e, em especial, de sua mãe (note que neste trecho sua mãe é mencionada três vezes). Em Gênesis 25:28 lemos que Rebeca tinha afeição especial por Jacó. Que grande tragédia acometeu essa mãe; ela “perdeu” os dois filhos! Um deles, Esaú, enveredou por maus caminhos. O outro, Jacó, por ter feito uma trapaça, teve que fugir. Certamente ela viveu esses longos anos de separação com o coração triste. Morreu sem vê-lo novamente. Isso nos faz pensar em tantas outras mães que também estão com o coração quebrado pela desobediência e obstinação de seus filhos. Deus conhece esses corações!

Mas, além desses sentimentos de tristeza, verificamos que também houve alegria, que foi provocada pela afeição. Por três vezes o relato bíblico cita o amor de Jacó por Raquel:

“Jacó amava a Raquel”;

“Assim serviu Jacó sete anos por Raquel; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava”;

“amou também a Raquel mais do que a Lia” (Gênesis 29:18,20,30).

O que deve ter se passado no seu interior ao perder sua esposa, que morreu dando à luz a Benjamim. Pouco antes de morrer, ele se recorda mais uma vez da amada Raquel com palavras que comovem o coração:

“Vindo, pois, eu de Padã, morreu-me Raquel no caminho... e eu a sepultei ali, no caminho de Efrata, que é Belém” (Gênesis 48:7).

Em todos esses longos anos de disciplina, Deus sempre velou sobre Jacó e cumpriu a promessa que lhe fizera:

“Eis que estou contigo” (Gênesis 28:15).

 

O encontro com Raquel aconteceu sob a condução de Deus.

 

Todavia, se compararmos o procedimento na escolha da noiva realizado pelo servo de Abraão, em Gênesis 24, certamente veremos grandes diferenças. O servo de Abraão cumpriu sua missão em comunhão com Deus, com grande fidelidade e com oração. Não encontramos isso com Jacó. Nem era possível que ele usufruísse uma comunhão desimpedida com Deus, pois estava sob disciplina.

Mas — e esse é o aspecto maravilhoso desse encontro com Raquel — Deus usa as circunstâncias para alcançar Seu plano de qualquer maneira.

 

Tudo acontece pela providência de Deus.

Um expositor comenta assim:

“Ao chegar em Harã, a providência de Deus faz com que Jacó encontre Raquel junto ao poço, assim como outrora Eliezer havia encontrado Rebeca. O diferencial é que Eliezer estava em comunhão com Deus, e o encontro lhe foi concedido por resposta à oração. O Deus, que em Betel havia dito a Jacó: “Eu estou contigo”, conduz as circunstâncias a favor de Seu servo. Estava Deus com Jacó? Sim! Porém Jacó não estava no usufruto da comunhão com Deus”.

Finalizando, podemos dizer que Jacó experimentou, junto ao poço — como outrora Agar —, que Deus o via. Mais tarde, ficou claro que Jacó também anelava poder ver a Deus.

Isso ficou evidente no pedido que ele fez a Deus:

“Dá-me, peço-te, a saber o teu nome” (Gênesis 32:29).

Este desejo se cumpriu somente quando Jacó foi a Betel pela segunda vez e Deus se manifestou com estas palavras:

“Eu sou o Deus Todo-Poderoso” (Gênesis 35:11).

Ao lermos este relato não ficamos admirados como Deus conduz tudo?

O matrimônio de Jacó com Raquel nos ilustra algo dos planos de Deus: um homem se apegará à sua mulher.

 

O homem deixa a casa de seus pais e se une estreitamente com sua mulher.

 

Moisés e Zípora

Para finalizar, queremos contemplar ainda o terceiro exemplo de um encontro no poço.

Trata-se de Moisés. Esse fiel servo do Senhor tinha um amor especialmente grande pelo povo de Deus. Ele nasceu em circunstâncias especiais e, tendo sido inicialmente criado na casa dos pais, logo foi levado para a corte de Faraó, onde recebeu instrução e formação elevada. Qual dessas duas “formações” prevaleceria? Sabemos a resposta: foi a instrução dos pais.

Naquela época, o povo de Israel ainda vivia no Egito sob o domínio de um rei cruel. Certo dia, Moisés, que sentia profundamente a aflição de seu povo, se deixou levar e, na sua exaltação, matou um egípcio. A consequência foi que o Faraó quis matá-lo e ele teve de fugir. Desse modo, ele chegou ao território dos midianitas, na península do Sinai.

E ali, assim como tinha acontecido com Jacó, ele encontra Zípora junto a um poço. Naquele momento, ela, juntamente com suas irmãs, estava dando de beber ao rebanho. O pai, Jetro (que é também Reuel: “amigo de Deus”), logo o acolheu em sua casa e, não muito depois, lhe deu a filha Zípora por esposa.

É impressionante observar a mão de Deus atuando neste episódio!

Seria por acaso que Moisés encontrou Zípora junto ao poço, justamente quando ela, acompanhada das irmãs, estava dando de beber às ovelhas?

Numa hora de profunda aflição e solidão, à qual Moisés havia chegado por culpa própria, Deus tinha Seus olhos fitos sobre este fugitivo que sofria por estar separado de seus irmãos. A intensidade da sua dor é evidenciada pelo nome que dá ao primeiro filho, ao qual “chamou Gérson, porque disse: Peregrino fui em terra estranha” (Êxodo 2:22).

Como instrução encorajadora, temos aqui a indicação para o que “era desde o princípio da criação”:

 

“Não é bom que o homem esteja só”!

 

Conclusões

Para encerrar, queremos citar o Salmo 119:27-28, que expressa bem as lições que essas considerações nos proporcionam:

  • Faze-me entender o caminho dos teus preceitos”

    — conforme fez Abraão.

  • “Assim falarei das tuas maravilhas”

    — assim como Jacó vivenciou.

  • “A minha alma consome-se de tristeza; fortalece-me segundo a tua palavra”

    — conforme a experiência de Moisés.

Porém, aprendamos também da história de Esaú: sua conduta é uma severa advertência contra um matrimônio sem Deus.

O casamento “no mundo” não tem promessas de Deus, e geralmente acaba em infortúnio. Por essa razão, recomendamos aos nossos jovens amigos que deem esse passo com a ajuda do Senhor, a saber — falando como Paulo — casem-se somente “no Senhor” (1 Coríntios 7:39).

Resumindo

  • Deus instituiu o matrimônio, a união íntima entre um homem e uma mulher, para abençoar a humanidade.
  • Ele mesmo une duas pessoas em um matrimônio.
  • Ali, cada indivíduo acha a sua contraparte correspondente.
  • O marido e a esposa passam a formar uma unidade vitalícia, autônoma, na qual o marido é incumbido da autoridade.
  • Grande é a felicidade dos que firmam o seu matrimônio no Senhor e que também o conduzem segundo a Palavra do Senhor!
W.R.

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