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Revista Leituras Cristãs

Conteúdo cristão para edificação

Estudos sobre a Palavra de Deus - 2 Epístola a Timóteo (continuação capitulo 3)

“ESTUDOS SOBRE A PALAVRA DE  DEUS”

Tradução de “Synopses of the Books of the Bible – Jonh Nelson Darby

SEGUNDA EPÍSTOLA A TIMÓTEO CAPÍTULO 3

 

Ora, esta perniciosa influência não deixaria de se exercer. O poder da santa verdade de Deus devia perder-se na Igreja e entre a Cristandade; e aqueles que usassem o nome de Cristãos deviam ser (sob a influência do Inimigo) a expressão da vontade e das paixões dos homens, conservando, porém, as formas da piedade, estado particular que manifesta de maneira notável a influência da obra do Inimigo. Isto era de esperar -. e seriam dias terríveis aqueles.

A declarada oposição do Inimigo é aflitiva, sem dúvida; mas, pelo que o apóstolo nos diz aqui, Satanás seduz as almas. Engana-as servindo-se do que usa o nome de Cristianismo, daquilo que, aos olhos dos homens, tem o caráter da piedade e que a carne aceita como tal, e muito mais voluntariamente do que aceitaria uma piedade verdadeira, que a contrariasse. Entretanto todos os piores traços do coração do homem se ligam ao nome de Cristianismo. Que vem a ser então o testemunho? Torna-se, por assim dizer, uma profecia individual, revestida de cilício (aflitiva).

Há grande atividade nesse mal horrível dos últimos dias. Esses enganadores introduzir-se-ão nas casas e ganharão a confiança das almas fracas que, governadas pelas suas paixões, estão sempre a aprender e... nunca chegam ao conhecimento da verdade. Esses obreiros resistem à verdade; são homens corruptos no seu entendimento, reprovados quanto à fé, mas não irão mais longe: Deus manifestará a loucura e a falsidade deles pelas suas próprias pretensões, que já não podem defender.

A porção do homem de Deus consiste em se desviar de tais homens enquanto seduzem e exercem a sua influência. Mais tarde Deus manifestará esses promotores de iniqüidade. Todos os homens julgarão então e farão justiça das suas pretensões; mas o homem espiritual julga-os já, quando eles seduzem os outros à sua vontade.

Podemos notar aqui o que manifesta, de maneira bem distinta, o triste e perigoso caráter dos tempos de que o apóstolo fala. Se compararmos a lista dos pecados e das abominações que Paulo dá no início da sua Epístola aos Romanos, como caracterizando a vida pagã e a degradação moral dos homens nos tempos de trevas e de adoração de demônios; se compararmos, digo eu, esta lista com a lista dos pecados que caracterizam aqueles que aparentam a piedade, encon­traremos que são quase a mesma coisa, e que, moralmente, o são de fato. Apenas faltam aqui alguns dos erros grosseiros e públicos que punham em evidência o homem insubordinado. A forma da piedade refreia essas faltas e sustitui-as.

Solene pensamento este! A mesma depravação que existia entre os pagãos, reproduz-se sob o Cristianismo e reveste-se do seu nome, tomando mesmo a forma de religiosidade. Mas, na realidade, são as mesmas paixões, a mesma natureza que estão em atividades no homem, o mesmo poder do Inimigo, com o máximo de hipocrisia. É o abandono e a corrupção da verdadeira doutrina do Mediador, como o Paganismo era o abandono e a corrupção da verdadeira doutrina de um só Deus.

São dadas diversas indicações para o comportamento do homem de Deus a respeito dos vasos para desonra e dos homens que atuam segundo o espírito dos últimos dias. Dos primeiros, o homem de Deus deve purificar-se. Deve pensar na fidelidade do seu próprio procedimento purificando-se desses vasos que não honram o Nome de Cristo, e que, estando na grande casa, não fazem uso da marca da genuína procura da Sua glória. O homem de Deus será um vaso para honra, apto para o serviço do Mestre. Mantendo-se afastado de tais vasos, está ao abrigo das influências que empobrecem e rebaixam o testemunho que ele deve prestar a Cristo; fica puro daquilo que deteriora e falsifica esse testemunho.

A respeito dos que formam a segunda classe, isto é, dos homens que dão aos últimos dias o caráter deplorável que esses dias terão, homens corruptos, que resistem à verdade, usando, porém, o nome de piedade, o testemunho do homem de Deus deve ser claro e puro. Aqui, para o homem de Deus, não se trata apenas de se purificar; ele testemunha do seu horror moral, do seu desgosto por causa daquele que, como instrumentos do Inimigo, usam o caráter da forma da piedade. O homem de Deus afasta-se deles e abandona-os ao Julgamento de Deus.

Timóteo tinha a vivência e o espírito do apóstolo para lhe servir de guia. Tinha estado com ele, tinha visto, nos momentos de prova, a sua paciência e os seus sofrimentos, as perseguições que ele tinha suportado - mas o Senhor tinha-o livrado de tudo. E assim será com todos os que procuram viver de harmonia com a piedade que existe em Cristo Jesus(1): Eles sofrerão perseguições. Os maus e os impostores irão sempre de mal a pior, enganando e sendo enganados (versos 10-13).

Aqui o caráter dos últimos dias é fortemente marcado, e não dá nenhuma esperança de restauração acerca do conjunto da Cristandade. O progresso do mal é descrito como desenvolvendo-se sob dois aspectos distintos, aos quais já aludimos, a saber, o da grande casa - a Cristandade como um todo - na qual há vasos para desonra, dos quais é preciso purificarmos ­nos, e o da atividade positiva da corrupção e dos instrumentos que a propagam, resistindo à verdade, embora aqueles que assim se corrompem revistem as formas da religiosidade. Sob está última forma, os maus irão sempre de mal a pior, todavia, a mão de Deus em poder demonstrará a loucura deles.

Podemos reconhecer, nesta última forma do mal, um caráter geral de orgulho e de corrupção que caracteriza todos aqueles que sofrem a sua maligna influência, mas também aqueles que se davam ao trabalho de a difundir. De entre estes, desta classe - diz o apóstolo - são aqueles que se introduzem nas casas (verso 6). O apóstolo fala, em geral, do caráter da multidão dos enganados, mas há também os enganadores. Estes resistem à verdade, e a sua loucura será manifestada. Pode ser que Deus, para livrar os Seus, demonstre essa loucura por toda a parte onde houver alguma fidelidade, mas, de um modo geral, o trabalho dos enganadores continuará e a sedução irá de mal a pior até ao fim, até que Deus manifeste a loucura daqueles que se afastaram de Si e se entregaram aos erros do espírito humano, aplicando-se a mantê-Ios e a propagá-Ios.

Em seguida o apóstolo indica a Timóteo qual é a sua salvaguarda e sobre o que ele se pode fundar para permanecer firme, pela graça, na verdade e no gozo da salvação de Deus (versos 14 e seguintes). A salvaguarda assenta na certeza da origem Imediata da doutrina que ele recebeu e sobre as Escrituras recebidas como documentos autênticos e inspirados, que promulgam a vontade, os atos e os desígnios, e mesmo a natureza de Deus. Permanecemos naquilo que aprendemos, porque sabemos de quem o aprendemos. Este princípio é simples e muito importante. Fazemos progressos no conhecimento divino; mas o crente, na medida em que é ensinado de Deus, não abandona nunca, por novas opiniões, o que aprendeu de uma fonte imediatamente divina, e que ele sabe ser mesmo assim. Chamo uma fonte imediatamente divina uma pessoa à qual o próprio Deus comunicou a verdade por revelação, uma pessoa com autoridade da parte de Deus para a promulgar. Neste caso, recebo o que ela diz (quando reconheço a sua missão) como sendo uma comunicação divina. É verdade que as Escrituras permanecem sempre como contraprova; mas quando, como no caso dos apóstolos, se verifica que o homem é um servo de Deus, quando é dotado por Ele para comunicar os Seus pensamentos, recebo o que ele diz, no exercício do seu ministério, como vindo de Deus. Não se trata, neste caso, da Igreja. A Igreja não pode ser o vaso da verdade divina, que lhe seria divinamente comunicada da parte de Deus. São sempre alguns indivíduos que constituem esse vaso. Vimos já que a porção da Igreja consiste em confessar a verdade, quando a verdade tem sido comunicada, e não em comunicá-la. Mas trata-se, repito, de uma pessoa à qual e pela qual Deus revela imediatamente a verdade - como foram os apóstolos e os profetas. Deus comunicou­-Ihes como vasos de eleição para esse fim, o que Ele quis comunicar ao mundo; e eles, por sua vez, o comunicaram. Ninguém poderia fazê-lo, se não tivesse recebido, pessoalmente, de Deus, como revelação, aquilo que assim devia comunicar; mas, se não for o caso, o homem terá a sua parte nessa comunicação. Eu não posso dizer a respeito de uma doutrina: "Eu sei de quem a aprendi", sabendo que ela vem imediatamente de Deus por uma revelação divina.

Quando Deus quis comunicar alguma coisa à própria Igreja, fê-lo por intermédio de Paulo, de Pedro, etc. A Igreja compõe-se de indivíduos; ela não pode receber em massa, como Assembléia, uma revelação divina, a menos que aqueles que a compõem ouçam em comum uma voz divina - o que não é a maneira de atuar de Deus. O Espírito Santo distribui a cada um em particular como Lhe aprazo Há profetas; e os  Espírito diz:

"Separai-me agora a Barnabé e a Saulo" (Atos 13:2). Cristo deu dons aos homens, uns como apóstolos, outros como profetas, etc. Por isso o apóstolo diz: "Sabendo", não "onde", mas "de quem" tu aprendeste estas coisas. 

Aqui está, portanto, o primeiro fundamento da certeza, da força e da segurança para o homem de Deus acerca da verdade divina. A verdade não foi revelada imediatamente a Timóteo. Tinha­-o sido a Paulo e a outros instrumentos que Deus tinha escolhido para essa favor especial. Mas Timóteo sabe de quem a aprendeu, sabe que a tem de alguém (neste caso de Paulo) a quem ela tinha sido diretamente comunicada por inspiração e que tem autoridade da parte de Deus para a comunicar, de sorte que quem aprende dele sabe que aprende a verdade divina tal como Deus a comunicou (ver 1 Coríntios 2), e como agradou a Deus comunicá-la.

Há uma outra coisa que tem um caráter próprio, a saber, as Escrituras, que, como tais, constituem o fundamento da fé do homem de Deus, e o dirigem em todos os seus caminhos. O próprio Senhor Jesus disse, falando de Moisés: "Se não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?". Estas palavras eram as palavras de Deus. Ele não põe em contraste a autoridade do que é dito com a autoridade do que está escrito, mas sim os dois meios de comunicação. Aprouve a Deus empregar o das Escrituras para servir de autoridade permanente. "Nenhuma profecia da Escritura ", diz Pedro. Tem havido muitas profecias, que não estão escritas, que tinham a autoridade de Deus para as pessoas às quais elas eram dirigidas. A Palavra de Deus fala­-nos por mais de uma vez de profetas que profetizaram, sem nos comunicar as suas profecias. Esses homens eram instrumentos para comunicarem a vontade de Deus, num dado momento, a fim de dirigir o povo de Deus nas circunstâncias em que se encontrava, sem que essa comunicação fosse uma revelação necessária para os fiéis de todos os tempos, ou aplicável quer, ao mundo, quer a Israel, quer à Igreja, em todos os séculos. Não era uma revelação geral e permanente vinda de Deus e que devesse servir de instrução para a alma em todas as épocas. 

Uma grande quantidade das coisas que Jesus disse não estão reproduzidas nas Escrituras; de modo que não se trata apenas de saber de quem se ouviu uma verdade, mas trata-se também do caráter da coisa comunicada. Quando era para proveito permanente do povo ou da Igreja de Deus, Deus fê-la registar nas Escrituras. Assim, ela permanece para instrução e para alimento espiritual dos fiéis em todos os tempos.

A expressão "sabendo de quem o tens aprendido" dá-nos como fundamento a autoridade pessoal de um apóstolo, considerando os apóstolos como doutores autorizados do Senhor. Os que são de Deus, diz João, esses escutam­ nos. Não é necessário que as Escrituras sejam a obra dos apóstolos. Deus, nas Escrituras, tem feito conhecer a Sua vontade e a Sua verdade, e confiou o depósito dos Seus oráculos ao Seu povo para proveito em todos os tempos. As Escrituras, como tais, fazem autoridade; e está autoridade não pertence somente àquilo que um homem, como homem espiritual, pode receber, aquilo de que temos aproveitado (quanto à aplicação à alma é realmente tudo) - são todas as Sagradas Escrituras, tal como nós as possuímos, que têm essa autoridade.

Desde a sua infância, Timóteo tinha lido as sagradas letras. E estes escritos, tais como ele os tinha percorrido como menino, o protegiam - sendo de autoridade divina - contra o erro e forneciam-­lhes as verdades divinas necessárias para a sua instrução. Para se servir delas como convém, era necessária a fé em Cristo; mas aquilo de que Timóteo se servia eram as Escrituras, conhecidas desde a sua infância. O que é importante notar aqui é que se trata das Escrituras em si mesmas, tal como um menino as lê - e não daquilo que um homem convertido ou espiritual ali possa encontrar. Trata-se das santas letras em si mesmas.

Dir-se-á, talvez, que Timóteo, em criança, não tinha senão o Antigo Testamento. De acordo, mas trata-se do caráter de tudo aquilo que tem o direito de ser chamado Sagradas Escrituras, como Pedro diz dos escritos de Paulo. Eles torcem-nas como torcem "igualmente as outras Escrituras" (2i1 de Pedro 3:16) (2). Desde o momento que reconheço os livros do Novo Testamento como tendo direito ao nome de Escrituras, eles possuem o mesmo caráter, têm a mesma autoridade que o Antigo Testamento.

As Escrituras são a expressão permanente dos pensamentos e da vontade de Deus, munidas como tal da Sua autoridade; elas são a expressão dos Seus próprios pensamentos, edificam, são úteis. Mas isto ainda não é tudo: Elas são inspiradas! Não se trata apenas de a verdade ali ser dita por inspiração; não é isso que nos é dito aqui. O que nos é dito e que elas são inspiradas.

A maior parte do Novo Testamento está compreendida na primeira fonte de autoridade de que falamos, e indicada na expressão "sabendo de quem o aprendeste". É tudo o que os apóstolos escreveram, porque eu posso dizer, aprendendo ali a verdade: Eu sei de quem o aprendi; aprendi-o de Paulo, ou de João, ou de Pedro, etc. Mas além disso, recebidas como Escrituras, todas as partes do Novo Testamento têm a autoridade dos escritos divinos, aos quais, como forma de comunicação, Deus tem dado a preferência sobre a palavra falada pelo próprio Salvador. As Escrituras são a regra permanente segundo a qual toda a palavra falada deve ser julgada.

Numa palavra, as Escrituras são inspiradas. Ensinam, julgam o coração, corrigem, disciplinam segundo a Justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, isto é, instruído de acordo com a vontade de Deus, que a sua inteligência seja formada de harmonia com essa vontade e que ele seja perfeitamente habilitado para toda a boa obra. O poder para realizar tudo isso vem

da ação do Espírito. O que protege o homem de Deus do erro, o que lhe dá a sabedoria para a salvação, são as Escrituras. Elas são capazes de lhe dar todas essas coisas. Devemos permanecer naquilo que aprendemos dos apóstolos e dirigirmo-nos de harmonia com os escritos de Deus.

Será que esta autoridade perfeita e suprema das Escrituras põe de lado o ministério? Não, certamente; pelo contrário, forma-lhe a base. Somos ministros da Palavra, anunciamos a Palavra, apoiados na Palavra escrita, que faz autoridade para todos e que legitima tudo o que o ministro diz e empresta às suas palavras a autoridade de Deus sobre a consciência daqueles que Ele exorta ou ensina. Há, além disso, o amor em atividade no coração daquele que exerce o ministério, se esse ministério for real, e a poderosa ação do Espírito, se d'Ele está cheio; mas o que a Palavra diz reduz ao silêncio toda a oposição do coração do crente.

Assim, foi pela Palavra que o Senhor respondeu a Satanás - e o próprio Satanás teve de se calar.

Aquele que não se submete às palavras de Deus mostra-se, por essa mesma razão, rebelde a Deus. A regra de Deus está nas Escrituras, a atividade enérgica do Seu Espírito no ministério, embora Deus possa de igual modo agir diretamente sobre o coração pela própria Palavra. Pelo contrário, o ministério não faz nunca autoridade desde que as revelações de Deus ficaram completas. De outro modo haveria duas autoridades, e, se houvesse duas, a segunda seria uma repetição da primeira, ou então, se fossem diferentes, anular-se-iam mutuamente.

Se as revelações não estivessem ainda completas, poderia, sem dúvida, haver vantagem nisso. O Antigo Testamento não relatava a história de Cristo nem a missão do Espírito Santo, nem a formação da Igreja, porque estes fatos, não estando ainda cumpridos, não podiam constituir o assunto dos seus ensinamentos históricos e doutrinários. E nem mesmo a Igreja era o tema da profecia. Mas agora tudo está completo, e Paulo pode dizer que é servo da Igreja "para dar pleno cumprimento à Palavra de Deus" (Colossenses 1:25). Os temas da Revelação ficaram então completos.

1) Encontramos neste caso uma diferença no estado das coisas: Não são todos os cristãos que serão perseguidos, mas apenas aqueles que quiseram viver piedosamente em Cristo Jesus.

 2) ”Escrituras” é o verdadeiro sentido da palavra “escritos”em Romanos 16:26. (As edições atuais já usam a palavra “Escrituras” em vez  de “Escritos”. Nota do tradutor).

 

Referências para o estudo bíblico - Dicas para a escola dominical


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