Revista Leituras Cristãs

Conteúdo cristão para edificação

"Estudos sobre a palavra de Deus” - Hebreus 9 (Parte 2)

 “ESTUDOS SOBRE A PALAVRA DE DEUS”
Tradução de “Synopsis of the Books of the Bible- John Nelson Darby

 

EPÍSTOLA AOS HEBREUS - CAPÍTULO 9 (Parte 2)

 

 

Os versos 16-17 são um parênteses em que a ideia do "testamento" (a mesma palavra em Grego que a de "aliança", quer dizer uma disposição da parte daquele que tem o direito de dispor) é introduzida para fazer compreender que a morte deve ter lugar, antes de se poder gozar dos direitos adquiridos por testamento (5).

Esta necessidade de fundar a aliança sobre o sangue de uma vítima não tinha sido esquecida quando da primeira aliança: Tudo foi aspergido com sangue; simplesmente, neste caso, era a sanção solene da morte, ligada à obrigação da aliança. Os tipos falavam sempre da necessidade da intervenção da morte antes do homem poder estar em relação com Deus. O pecado tinha trazido a morte e o julgamento; era-nos, pois, necessário, ou sofrermos o julgamento nós mesmos, ou então ver os nossos pecados apagados pelo fato de um outro ter sofrido o julgamento em nosso lugar.

São-nos apresentadas aqui três explicações do sangue: A Aliança é fundada sobre o sangue; a purificação das máculas é feita por esse meio; a culpabilidade é tirada pela remissão obtida pelo sangue que foi derramado.

Estas são, com efeito, as três coisas necessárias:

Primeira - Os caminhos de Deus em bênção, segundo as Suas promessas, são postos em relação com a Sua Justiça; os pecados daqueles que são abençoados estando expiados, fundamento indispensável da Aliança; tendo Cristo, ao mesmo tempo, glorificado a Deus quanto ao pecado, quando Ele foi feito pecado sobre a Cruz.

Segunda - A purificação dos pecados pelos quais estamos maculados (assim como todas as coisas, embora elas mesmas não pudessem ser culpadas) é cumprida aqui. Havia casos em que a água era empregada: era um tipo da purificação moral e prática - decorria da morte! A água que purifica saiu do lado da Santa Vítima, já morta: É a aplicação, à consciência e ao coração, da Palavra que julga todo o mal e revela todo o bem.

 

5) Alguns consideram estes dois versos, 16 e 17, não como um parêntese que fala de um testamento, mas como continuando o raciocínio acerca da Aliança, tomando a correspondente palavra grega não como designado o testador, mas o sacrifício, que punha um selo mais solene do que urnjuramentona obrigação de observar a Aliança. É uma questão do Grego, muito delicada, que não trato aqui. Mas não posso dizer que me tenham convencido.

 

Terceira - Quanto à remissão, em caso algum ela se efetua sem que o sangue seja vertido. Note­-se aqui que não nos é dito "aplicado". Trata-se do cumprimento da obra da verdadeira propiciação. Sem efusão de sangue não há remissão. Verdade esta da maior importância: Para uma obra de remissão, é preciso que a morte e a efusão de sangue tenham lugar.

Duas consequências decorrem desses aspectos da expiação e da reconciliação com Deus.

A. Em pri­meiro lugar, era necessário um melhor sacrifício, uma vítima mais excelente do que aquela que era oferecida sob a Antiga Aliança, porque se tratava, não de purificar figuras, mas sim das próprias coisas celestiais - e foi na presença do próprio Deus que Cristo entrou;

B. Em segundo lugar, Cristo não devia oferecer-Se muitas vezes, como o sumo sacerdote, que entrava todos os anos com o sangue de outro, porque Ele ofereceu-Se a Si próprio. Se tudo o que aproveitava do sacrifício não fosse levado à perfeição por uma só oferenda, feita uma vez por todas, o Cristo deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo (6). Esta observação dá lugar à declaração clara e simples dos caminhos de Deus a respeito desse sacrifício, feito uma vez por todas, declaração de um preço infinito. Deus deixou passar os séculos (quer dizer, os diversos períodos distintos nos quais o homem tem sido posto à prova de diversas maneiras e tem tido tempo suficiente para mostrar o que ele é) sem cumprir ainda a obra da Sua graça. Esta prova tem servido para mostrar que o homem é mau por natureza e pela sua vontade. A multiplicação dos meios empregados não fez senão pôr em evidência que a índole da natureza humana é essencialmente má, porque ele não aproveita de nenhum desses meios para se aproximar de Deus. Pelo contrário, a sua inimizade contra Deus tem sido plenamente manifestada.

Quando Deus tornou isto evidente antes da lei, sob lei, por promessas, pela chegada e pela presença de Seu Filho, então a obra de Deus tomou, para a nossa salvação e para a Sua glória, o lugar da responsabilidade do homem. Ora, sobre o terreno dessa responsabilidade, a fé sabe que o homem está inteiramente perdido. É por isso que nos é dito: "na consumação dos séculos" (v. 26).

 

6) E Ele deveria ter sofrido várias vezes, porque é preciso que o pecado, na realidade, seja tirado.

 

Ora, esta obra é perfeita e foi perfeitamente realizada. O pecado tinha desonrado a Deus e separado d'Ele o homem. Tudo o que Deus tinha feito para dar ao homem um meio de regressar a Ele só tinha tido como resultado o dar-lhe ocasião de atingir, o cúmulo do pecado para rejeição de Jesus. Mas os desígnios eternos de Deus cumpriam-se nessa rejeição, ou, pelo menos, a base moral do seu cumprimento estava posta, e isto de harmonia com a Sua perfeição infinita, a fim de que eles fossem realmente perfeitos nos seus resultados.

Agora tudo repousava, de fato, como nos eternos desígnios de Deus, sobre o segundo Adão e sobre o que Deus tinha feito - não sobre a responsabilidade do homem, embora tenha ficado plenamente satisfeito quanto a essa responsabilidade para a glória de Deus (comparar 2ª a Timóteo 1:9-10; Tito 1:1-2). O Cristo, que o homem tinha rejeitado, tinha vindo para abolir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. Deste modo, e moralmente, "a consu­mação dos séculos" tinha chegado.

Os resultados da obra e do poder de Deus não são ainda manifestados; isso será uma nova Criação. Mas o homem, como filho de Adão, tem cumprido bem a sua missão nas suas relações com Deus: ele é inimizade contra Deus! Cristo, cumprindo a vontade de Deus, veio, na consumação dos séculos, para abolir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. É esta a força moral do Seu ato (7), do Seu sacrifício perante Deus. Como resultado, o pecado será totalmente suprimido dos céus e da terra. Pela fé, este resultado, a saber a abolição do pecado, está já realizado na consciência (8), porque Cristo, que foi feito pecado por nós, está morto, e morto ao pecado; mas, uma vez que Ele está agora ressuscitado e glorificado, o pecado (em­bora Cristo tenha sido mesmo feito pecado por nós) foi posto de lado.

 

7) Quanto mais examinar- mos a Cruz, do ponto de vista de Deus, mais veremos este poder:
A inimizade do homem contra Deus, e contra Deus vindo em bondade, foi manifestada de uma maneira absoluta; e também o poder de Satanás em mal sobre o homem. E, além disso, a perfeição do Homem no Seu amor pelo Pai e na obediência ao Pai foi manifestada, assim como a majestade e a Justiça de Deus contra o pecado e o Seu amor pelos pecadores, tudo o que Ele é. Sim, toda a questão do bem e do mal foi regularizada, ali, onde se encontrava o pecado, a saber, em Cristo feito pecado por nós. Quando, Naquele que era sem pecado, o pecado esteve como tal perante a face de Deus, lá onde era necessário que o pecado estivesse; quando Deus foi glorificado perfeitamente, como certamente também o filho do homem, então, moralmente, tudo foi regulado - e nós o sabemos! Somente os resultados reais não foram ainda produzidos.


8) O julgamento que se abaterá sobre os maus não é a abolição do pecado. A obra e a posição de Cristo têm ainda muitos outros resultados, tais como a glória celestial ao pé de Deus, mas não é esse assunto de que nos ocupemos aqui.

 

Este resultado, para os que esperam o regresso do Senhor, é também anunciado ao crente. A sorte dos homens, filhos de Adão, é a morte e o julgamento. Mas Cristo foi oferecido uma só vez para levar sobre Si os pecados de muitos, e, àqueles que O esperam, Ele "aparecerá uma segunda vez, sem pecado, para salvação" (v. 27-28). Para estes, quanto à sua posição perante a Deus, o pecado está presentemente abolido. Tal como é Cristo, assim eles são; os seus próprios pecados são todos suprimidos. Quando da primeira vez, Cristo tinha sido manifestado a fim de ser feito pecado por nós e de levar sobre Si os nossos pecados - e Ele os carregou sobre a Cruz. Mas, acerca daqueles que O esperam, esses pecados estão totalmente eliminados. Quando voltar, Cristo não tem nada a ver com o pecado, pelo que lhes diz respeito. Ele acabou com o pecado quando da Sua primeira vinda. E aparecerá uma segunda vez para os livrar de todos os resultados do pecado, de toda a servidão. Aparecerá, não para o julgamento, mas sim para a salvação. Para eles - para nós, crentes - a abolição do pecado foi tão completa, tão perfeita, os pecados tão inteiramente tirados que, quando Ele voltar, nada tem a ver com o pecado. Aparecerá totalmente separado do pecado; não só sem pecado na Sua pessoa - era o caso da Sua primeira vinda - mas também fora (quanto àqueles que O esperam) de toda a questão de pecado, para a libertação final deles.

"Sem pecados" está em contraste com "levar os pecados de muitos" (9). Mas notar-se-á que aqui não é feita a menção do arrebatamento da Igreja. E é de notar também as expressões empregadas: analisam minuciosamente o caráter da segunda vinda do Senhor. Ele foi manifestado uma só vez. Agora é visto por aqueles que O esperam. A expressão pode aplicar-se à libertação dos judeus que O esperam nos últimos dias. Ele aparecerá para a sua libertação. Mas nós também esperamos o Senhor para essa libertação - e nós O veremos, quando Ele operar por nós. O autor da Epístola não aborda a questão da diferença entre este e o nosso arrebatamento, e não emprega aqui a palavra grega que serve para anunciar a manifestação pública do Senhor. Ele aparecerá "aqueles que O esperam" . Não é visto por todo o mundo, e, por conseguinte, não é ainda o julgamento, embora este possa seguir-se. O Espírito Santo não Se ocupa aqui senão daqueles que O esperam. Ele aparecerá a estes; será visto por eles, e esse será o tempo da sua libertação, de sorte que isto que é dito aqui é verdadeiro para nós e aplicável também ao remanescente Judaico nos últimos dias.

 

9) É importante ver a diferença entre os versos 26 e 28. Era preciso que o pecado, no seu sentido abstrato, fosse tirado de diante de Deus; é por isso que era necessário que Deus fosse perfeitamente glorificado quanto ao pecado, ali onde o pecado se encontra na Sua frente. Cristo foi feito pecado; Ele foi manifestado para o abolir de diante Deus. Por outro lado, havia em questão os nossos pecados (a nossa culpabilidade); e Cristo os levou no Seu próprio corpo sobre o madeiro. Os pecados foram levados, e Cristo já os não tem. Quanto a culpabilidade, eles são tirados de diante Deus para sempre. A obra para a abolição do pecado perante Deus está concluída, e Deus reconhece-a como realizada, tendo glorificado a Jesus, que O glorificou a Ele, quanto a esta obra, quanto foi feito pecado. Assim, para Deus a questão está regulada, e a fé o reconhece, mas o resultado não está ainda produzido. A obra está perante Deus em todo o seu valor, mas o pecado existe ainda no crente e no mundo. A fé reconhece as duas coisas; sabe que, perante Deus, a obra está consumada, e descansa nela, do mesmo modo como Deus o faz. Mas o cristão sabe que, de fato, o pecado ainda está nele; somente tem o direito de se considerar a si mesmo como morto ao pecado - sabe que o pecado na carne está condenado, mas isto no sacrifício pelo pecado, de sorte que não há nenhum pecado para ele próprio. A abolição ainda não está realizada, mas o que a produz já foi feito, de modo que Deus a reconhece, e a fé a reconhece também - e o crente está, perante Deus, perfeitamente livre do pecado e dos pecados. Aquele que está morto (ora, nós estamos, estando mortos com Cristo) está justificado do pecado. Os nossos pecados foram todos levados por Cristo. A dificuldade provém, em parte, da palavra "pecado· se usar para um ato particular, e se empregar também no sentido abstrato. Com a palavra "pecados·, no plural, já se não dá o mesmo equivoco. Um sacrifício por causado pecado-a expressão é correta, embora se trate de uma falta particular. O pecado entrado no mundo é outra idéia. Este duplo sentido tem causado alguma confusão.

 

Assim, a posição cristã, e a esperança do mundo habitado futuro, fundada sobre o sangue e sobre o Mediador da Nova Aliança, são as duas coisas aqui verificadas: Uma, a porção atual do crente; a outra, tomada certa como a esperança de Israel. Que sublime graça esta, a que consideramos agora! ...

Há duas coisas que se nos apresentam em Cristo: O atrativo da Sua graça e da Sua bondade, para o coração, e a Sua obra que coloca a alma na presença de Deus. É desta última que o Espírito de Deus nos ocupa aqui. Não se trata apenas da piedade que produz a graça. O efeito da obra é também verificado. E o que é, para nós, esse efeito? Temos acesso perante a face de Deus, em luz, sem véu, estando inteiramente livres de todo o pecado perante Ele, alvos como a neve, na luz que O revela. Que maravilhosa posição para nós! Não se trata de esperar um dia de Julgamento, por muito certo que ele esteja, nem de procurar os meios de nos aproximarmos de Deus: Nós estamos na Sua presença; Cristo comparece na presença de Deus por nós, mas não é somente isso: G:risto permanece lá, portanto, a nossa posição não muda. Na verdade, nós somos chamados para andarmos de harmonia com esta posição, mas isso em nada altera o fato de ser essa a nossa posição. E como chegamos nos lá, e me que condições? Os nossos pecados foram totalmente abolidos, perfeitamente abolidos, e uma vez por todas. Toda a questão do pecado está regularizada perante Deus; nós estamos lá, porque Cristo consumou a obra que aboliu o pecado. De modo que existem as duas coisas: A obra feita, e esta posição adquirida para nós na presença de Deus.

Vê-se a força do contraste de tudo isto com a Judaísmo. Segundo este, o serviço divino, como vimos, era realizado fora do véu; não se chegava até à presença de Deus. Por isso tinham sempre de recomeçar. O sacrifício propicia­tório renovava-se de ano para ano, testemunho constantemente repetido de que o pecado estava ainda lá. Individualmente, obtinha- se um perdão passageiro, para um ato particular, mas tinha de ser sempre renovado: A consciência não ficava perfeita, a alma não estava na presença de Deus, esta grande questão não era nunca eficazmente resolvida. (E quantas almas não estarão, mesmo ainda hoje, nesse estado?!). A entrada do sumo sacerdote, uma vez por ano, não fazia senão fornecer uma prova de que o Caminho se encontrava ainda fechado, que não se aproximavam de Deus, e que havia sempre diante d'Ele a lembrança do pecado.

Agora, para nós, o pecado está abolido por uma obra feita uma vez por todas; a consciência foi aperfeiçoada e já não há condenação para nós. O pecado na carne foi condenado em Cristo quando Ele foi o sacrifício pelo pecado, e Cristo está para sempre, para nós, na presença de Deus. O nosso sumo sacerdote permanece lá.

Assim, em lugar de um memorial do pecado, reiterado de ano em ano, a Justiça perfeita subsiste sempre, para nós, na presença de Deus. A posição está totalmente mudada!

A sorte do homem - porque esta obra perfeita nos faz sair do círculo do Judaísmo - é a morte e o julgamento; mas agora a nossa sorte depende de Cristo - e não de Adão! Cristo foi oferecido para levar os pecados de muitos (10) - a obra é perfeita e completa aos pecados abolidos, e, aqueles que O esperam, Ele aparecerá sem a questão do pecado, tendo a questão sido perfeitamente resolvida quando da Sua primeira vinda. Na morte de Jesus, Deus tratou dos pecados daqueles que O esperavam - e Ele aparecerá, não para julgar, mas para salvação, para finalmente os livrar

da posição em que os seus pecados os tinham colocado. Estas verdades terão a sua aplicação no Remanescente judaico, de acordo com as circunstâncias da sua posição; mas elas aplicam-se de uma maneira absoluta ao Cristão, cuja porção é o Céu.

O ponto essencial estabelecido na doutrina da morte de Cristo é que Ele Se ofereceu uma vez por todas. Para bem se compreender o alcance de tudo o que é dito aqui é necessário reter este pensamento.

 

10) A palavra "muitos" tem aqui um duplo alcance, um alcance negativo e positivo ao mesmo tempo. Não se pode dizer "todos", porque assim todos seriam salvos; mas, por outro lado, a pala­vra "muitos" ou "vários", generaliza a obra, de modo que não são apenas os Judeus o seu objeto.

 

Felicidade ou Infelicidade no Casamento e Família (Parte 1)


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