Sob este título temos o propósito de esclarecer algumas expressões que encontramos no texto da Escritura.
Nisto nós não desejamos fazer uma, assim chamada, interpretação “teológica” do termo, mas simplesmente contribuir para a compreensão geral.
Certas palavras que lemos na Santa Escritura, que ouvimos em palestras, pregações, ou talvez nós mesmos usamos, não são compreendidas de imediato por todo mundo.
Um dos motivos pode ser o fato de que certas palavras, no decorrer dos anos, perderam o sentido original através do linguajar “normal”, diário. Quando então esses termos são aplicados no sentido da Escritura Sagrada — em pregações ou escritos — o ouvinte ou o leitor pode ter dificuldades na compreensão daquilo que é dito ou escrito.
Algumas curtas explicações poderão ser de ajuda.
Vejamos primeiramente o que ousadia não é: um proceder enérgico, porque se está convencido de si mesmo e da própria capacidade de lidar com uma tarefa e resolvê-la.
Nas Escrituras Sagradas, ousadia significa que nós — apesar de todo o poder deste mundo nos ser contrário — somos “audaciosos” e “confiantes” porque Deus é por nós. Trata-se de uma atitude de confiança de fé que Deus dá.
O termo ousadia traz embutido o pensamento de liberdade e coragem/intrepidez para se dizer ou fazer algo.
Assim, o termo grego parrhesia, ou seu verbo derivado parrhesiazomai, em português é traduzido como “abertamente”, “claramente”, “ousadamente”, “com ousadia”, “intrepidez” e “confiança” (veja Marcos 8:32; João 10:24; 11:14,54; 16:25,29; Filipenses 1:20).
O termo é usado regularmente de forma positiva. Além disso, me parece interessante que não há passagem na Escritura onde alguém afirmasse de si mesmo ou é dito de alguém que não tivesse tido ousadia. Isso parece evidenciar que Deus, na verdade, não presume falta de ousadia nos que são Seus, pois o termo é utilizado apenas com eles.
O termo ousadia ocorre com mais frequência no livro de Atos — somente nesse livro há doze passagens nas quais é falado acerca disso em relação aos primeiros crentes da época da graça:
Poderíamos colocar o título: “Com Ousadia” sobre a forma como os apóstolos falaram, como eles têm pregado, como eles viveram a sua fé.
Como os apóstolos e os primeiros cristãos vieram a ter essa ousadia?
Não era uma confiança na sua própria força e capacidade.
Deus a havia dado, ela nasceu e cresceu da fé.
Uma passagem no livro de Atos deixa isso muito claro. No capítulo 4, lemos a respeito da oposição que os principais e anciãos dos judeus faziam contra os apóstolos e sua pregação, ameaçando-os e cogitando tomar medidas contra eles.
Como algum tempo antes, Pedro poderia ter procedido com muita confiança, considerando que ele sabia falar claramente. Sua pregação em Pentecostes o tinha provado! Mas nada disso! Quando ele e João foram para os “seus” (v. 23), eles — em conjunto e unânimes — dirigiram uma oração profunda a Deus e disseram (entre outras coisas):
“Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra” (v. 29).
Eles oram com absoluta confiança, uma oração de fé! E eles são imediatamente ouvidos (v. 31).
Uma breve análise dos contextos nos quais é mencionado a ousadia, ou também para que devia e podia haver ousadia, mostra o seguinte:
Deus também quer dar a nós ousadia para dar um testemunho fiel para Ele, nosso Senhor, uma intrepidez que provém da vida de fé e do amor por nosso Senhor.
Já havia sido o desejo do apóstolo de que “com toda confiança, Cristo [seja]... engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” (Filipenses 1:20).