Gênesis 2:18-25; Gênesis 41:45 Gênesis 24; Êxodo 2:21; 4:24-26; 18:2; 1 Samuel 25; Rute

Será para nosso benefício espiritual olhar para algumas mulheres do Antigo Testamento que são belas figuras da Igreja por sua personalidade ou pela natureza de sua união conjugal.

A Palavra de Deus nos apresenta a esposas como Eva, Rebeca, Azenate, Zípora, Abigail e Rute, para nos trazer certos traços do fiel remanescente de Israel, assim como da noiva celestial. Suas vidas estavam intimamente ligadas à vida de homens de fé que, por sua vez, são figuras de Cristo. Nossos olhos são assim dirigidos além das figuras da Igreja para Aquele que é “mais formoso do que os filhos dos homens”, para o Amado no Salmo 45, o Senhor Jesus.

Eva
(Gênesis 2:18-25)

Mulher de Adão – este uma figura de Cristo, como o Primogênito de toda criação (Colossenses 1:15) e ao qual todo o universo está sujeito.

Vemos como ela foi tirada de Adão. De uma de suas costelas Deus formou este ser feminino, que é de natureza tão diferente do homem e, no entanto, corresponde a ele.

Ela está intimamente unida a Adão e o complementa em todos os sentidos. Homem e mulher – juntos formam o ser humano de acordo com os planos de Deus.Neste contexto, encontramos o pensamento divino:

“Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne”.
(Gênesis 2:24, Mateus 19:5).

As duas expressões em hebraico, “apegar-se” e “ser uma só carne” expressam mais do que a união física. Elas significam a união dos dois seres correspondentes em termos de sua personalidade, seus sentimentos e seu espírito. Eva tornou-se a esposa de Adão por meio de um ato da perfeita sabedoria de Deus, que queria dar ao primeiro homem uma ajudadora que lhe fosse idônea.

Assim, todo casal cristão tem o imensurável privilégio de conhecer o profundo significado do casamento. A unidade formada pelo casamento de duas pessoas para o tempo nesta terra é uma bela imagem – embora sempre imperfeita – da união espiritual de Cristo e Sua Igreja (Efésios 5:31-32).

Assim, podemos ver em Eva, em Gênesis 2, uma figura da Igreja. Segundo os pensamentos de Deus, Cristo deve ter uma esposa que Lhe corresponda perfeitamente (Romanos 8:29, 1 João 3:2).

A origem da Igreja é um resultado da morte do Senhor Jesus, como indica o sono profundo de Adão. Sobre a Cruz, onde Cristo morreu, Seu amor por Sua Igreja foi expresso de uma forma extraordinária. Lá Ele “a si mesmo se entregou por ela” (Efésios 5:25). A ressurreição de Cristo, Sua posterior ascensão e o envio do Espírito Santo, completa o quadro dos planos divinos de Deus e a figura da noiva, a esposa do Cordeiro (Apocalipse 21:9).

Apreciamos nós o suficiente este amor de Cristo por Sua Igreja, à qual nos é permitido pertencer por graça? Quanto mais apreciamos este amor, mais nos damos conta de quão intimamente estamos unidos a Cristo, sendo formados dEle, “membros de seu corpo, da sua carne e dos seus ossos” (Efésios 5:30).

Na época em que Adão se uniu a Eva, ele governou sobre toda a primeira criação (uma soberania que Satanás nunca alcançou, mas que ele conseguiu usurpar do homem fazendo dele seu escravo após a queda do homem em pecado). Cristo é a cabeça de toda a criação, o “Primogênito”, ou seja, Ele toma o primeiro lugar em relação a todas as coisas criadas. Além disso, mediante Sua vitória na cruz, Ele tirou do príncipe injusto deste mundo os direitos que ele usurpara. Como ser humano, Ele recuperou tudo que tinha por direito, a herança de todas as coisas criadas, as quais Adão deixou escapar de suas mãos.

Eva se uniu a Adão para desfrutar as bênçãos do Éden com ele na inocência. Isto aconteceu antes da queda em pecado e todas as suas consequências entrarem no mundo.

Da mesma forma, a Igreja já goza agora, pela fé, as bênçãos celestiais que possuímos em Cristo, no “paraíso de Deus” (Apocalipse 2:7).

E quão maravilhosa é a esperança da Igreja de logo estar com Cristo, quando Ele próprio “apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5:27). Então compartilhará Sua glória com Ele, tanto durante o Reino Milenar como além dele, em uma eternidade de luz e paz (Apocalipse 21:2; 22:5).

Azenate
(Gênesis 41:45)

Esposa de José – que foi rejeitado por seus irmãos. Ele é uma imagem do Cristo rejeitado por Israel, que agora está exaltado no céu, à direita de Deus.

Azenate foi unida a José no momento de sua glorificação, sem ter compartilhado com ele os sofrimentos de sua rejeição.

Em Gênesis 41, José está no auge de sua glória. O Faraó o coloca como responsável sobre toda a terra do Egito. Ele o faz andar na segunda carruagem, e é proclamado diante dele: “Ajoelhai”! Nesses momentos, José representa alguém maior do que ele mesmo: Cristo, a quem Deus fez Senhor sobre todo o universo depois de Sua ressurreição e ascensão, dando-Lhe toda autoridade no céu e na terra (Mateus 28:18; Atos 2:36).

A noiva que o Faraó deu a José, é também uma bela figura da Igreja que, espiritualmente falando, já está compartilhando a glória de Cristo à direita de Deus. Esta glória atual do Senhor Jesus como Filho do Homem é, por assim dizer, dada a nós antecipadamente (João 17:22). Corresponde ao que temos em Romanos 8:30 e em Efésios 1 e 2. Somos glorificados nEle e esperamos estar com Ele.

Algum tempo depois de José ter recebido Azenate (Gênesis 41:45), ele retoma o contato com seus irmãos em espírito de graça.

Da mesma forma, após o arrebatamento da Igreja e as bodas do Cordeiro (Apocalipse 19:7), o Senhor Jesus se dará a conhecer em glória a Seus irmãos, os judeus fiéis do remanescente. Eles então olharão para Aquele “a quem traspassaram” (Zacarias 12:10-14) e curvados se prostrarão em genuíno arrependimento.

Mas, antes deste momento, que dará início ao reinado do Reino Milenar (predito por Gênesis 47), a Igreja que, como Azenate vinda de uma família egípcia, é tirada das nações, compartilha da atual glória celestial do Senhor Jesus.

A esposa de José lhe deu dois filhos. Seus nomes lembram o consolo que ele recebeu de tal descendência (Manasses significa “que faz esquecer” e Efraim “dupla fertilidade”), já que ele ainda estava separado de seu pai e rejeitado por seus irmãos.

O quanto o Senhor aprecia o fato de que durante o tempo em que Ele é considerado morto por Seu povo terreno, Ele tem uma noiva e uma nova família para alegrar Seu coração. Que graça é podermos estar entre aqueles que, depois de compartilhar a rejeição dEle, reinaremos com Ele (2 Timóteo 2:11-12)!

Rebeca
(Gênesis 24)

Esposa de Isaque – este uma figura do Cristo ressuscitado e exaltado, a cabeça da nova criação (Colossenses 1:18).

Em Gênesis 22, encontramos o sacrifício de Isaque, que prefigura a morte e a ressurreição de Jesus Cristo de uma maneira muito comovente. Então, em Gênesis 23, segue a morte de Sara, que é uma imagem da atual situação de Israel e das promessas terrestres, que deram lugar para as bênçãos celestiais da Igreja. Logo em seguida, no capítulo 24, temos o relato da atividade do servo de Abraão, que foi enviado para buscar uma noiva para o filho e herdeiro.

Esta é uma figura da obra divina do Espírito Santo preparando a noiva, para o Filho de Deus. Depois de ter passado pela morte, Ele tomou Seu lugar no céu e recebe a Igreja como Sua noiva.

Na figura de Rebeca, a Igreja não é vista como tirada do mundo, mas como a Igreja preparada para o Noivo. A propósito, Isaque não sofreu para conseguir Rebeca. Por outro lado, Cristo “amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”, tendo que passar pelas horas de escuridão na cruz para adquiri-la.

No capítulo 24 de Gênesis, o servo, o mais antigo da casa de Abraão, é uma figura do Espírito Santo. De maneira semelhante àquele servo, o Espírito Santo hoje conduz aqueles que formam a esposa do Senhor Jesus, ao lugar onde estarão unidos para sempre com Cristo na glória. O criado reconhece que Rebeca tem características de uma beleza especial. Ela não só respondeu de boa vontade ao seu pedido por um pouco de água para ele pessoalmente, ela foi muito além disso, também tirando água para seus camelos (v. 20).

Há uma diferença notável entre as duas figuras, Eva e Rebeca. Em Eva, vemos como a noiva é formada por um ato soberano de Deus, sem que ela mesma se torne ativa de nenhuma forma. Em Rebeca, por outro lado, vemos a resposta sensata da fé, que o Espírito Santo produziu no coração da noiva. Aqui são reveladas as características da verdadeira piedade.

No versículo 53, o servo tira todos os presentes que lhe foram dados; joias de prata e de ouro e vestidos. Desta forma, o Espírito Santo nos permite desfrutar antecipadamente das riquezas incompreensíveis de Cristo e de todas as bênçãos espirituais que possuímos nEle nos lugares celestiais (Efésios 3:8; 1:3). Por causa da redenção (representada pela prata) nos tornamos agradáveis no Amado (cujas glórias divinas podemos ver no ouro). Assim como Rebeca podia usar as roupas trazidas pelo servo, estamos felizes em portar as características d’Aquele com quem a graça nos uniu. Ele é Aquele a quem o Pai entregou todas as coisas em suas mãos (Gênesis 24:36; João 3:35).

Como Isaque no poço de Beer-Laai-Rói, Cristo está esperando no céu pelo momento das bodas. A noiva se pôs a caminho sob a orientação e direção do Espírito Santo que fala ao seu coração acerca daquele que ela ama. A longa jornada logo chegará ao fim. Ao levantar os olhos, ela pode ver, espiritualmente, Isaque (Gênesis 24:64; 2 Coríntios 3:18). Rebeca se cobre com o véu como um sinal de submissão. Que bela figura da Igreja se preparando para o momento glorioso em que ela verá seu Esposo nas nuvens para estar unida a Ele para sempre (Apocalipse 19:7).

Zípora
(Êxodo 2:21; 4:24-26; 18:2)

Esposa de Moisés – este sendo uma figura de Cristo, que é rejeitado em vista de sua missão como libertador de Israel.

Zípora se torna a esposa de Moisés no tempo em que ele foi rejeitado por Israel e, fugindo, se deteve em Midiã. Provavelmente ela o acompanhou na viagem a partir de Êxodo 18, depois do episódio de Refidim, onde Moisés bateu na rocha. Enquanto ele conduziu o povo pelo deserto, Israel teve que arcar com as consequências de sua incredulidade por 38 anos.

Zípora, no início de sua história, é uma figura da Igreja unida a Cristo enquanto Ele é rejeitado por Israel como o Messias. Parece que ela também foi parcialmente responsável pelo fato de seu filho não ter sido circuncidado, ou seja, ela não deu o devido valor à marca da aliança com Abraão e seus descendentes. Mas Deus julgou a Moisés, que era o responsável por sua família. Diante da terrível realidade do governo de Deus, Zípora percebeu seu erro e se submeteu à vontade de Deus (Êxodo 4:25). Assim o Senhor explica à igreja de Laodiceia:

“Eu repreendo e castigo a todos quantos amo; sê pois zeloso, e arrepende-te” (Apocalipse 3:19).

No seio da igreja, que fracassou gravemente como testemunha responsável, é abordado aquele que tem um ouvido aberto. Sete vezes em Apocalipse 2 e 3 vemos a admoestação: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.

Em Êxodo 18, Jetro, o sogro de Moisés, vai até o povo de Israel no deserto. Nisto vemos uma figura da introdução das nações nas bênçãos do Reino Milenar. A Igreja como noiva de Cristo - aqui representada por Zipora - também aparece no cenário. Isto faz lembrar Apocalipse 21, onde vemos a Igreja como “a grande cidade… que de Deus descia do céu. E tinha a glória de Deus”. E ainda: “E as nações dos salvos andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra” (vv. 10; 24).

Abigail
(1 Samuel 25)

Esposa de Davi – que é uma figura de Cristo, o rei sofredor e desprezado.

Esta mulher humilde e sábia reconheceu, pela fé, a grandeza do ungido do Senhor, mesmo que Nabal, seu marido perverso, o tenha injuriado e Saul, o rei rejeitado por Deus, o odiasse e perseguisse.

Nabal representa por um lado Israel, que cometeu a loucura de julgar mal seu Messias e, por outro lado, todos os incrédulos que hoje desprezam o Senhor Jesus, o Filho de Deus, e assim permanecem sob julgamento divino (João 3:36). Este espírito de afastamento de Deus está se multiplicando cada vez mais dentro do cristianismo, por parte daqueles “que convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo” (Judas 4).

Vemos Abigail prostrando-se diante de Davi, esperando tudo de sua graça e ansiando pelo dia em que ele seria exaltado ao trono.

Por meio de sua piedade, sua humildade e sua confiança sem reservas naquele que ela chama de “seu senhor”, ela é um exemplo para nós cristãos quanto à nossa atitude para com nosso Senhor Jesus Cristo.

Após a morte de Nabal, a quem o próprio Deus feriu, Abigail, em sua posterior união com Davi, torna-se uma figura da Igreja como a noiva de Cristo. A partir daí, ela compartilha o destino de Davi, que perambula pelas montanhas de Judá como o desprezado e rejeitado por uns e estimado e procurado por outros. Ao fazer isso, ela renuncia a todo o conforto e privilégios que tinha como proprietária de terras e de bens materiais, por ele.

Assim, a Igreja pode também “considerar a vergonha de Cristo como uma riqueza maior” do que todas as riquezas deste mundo. A promessa divina é uma certeza para nós, assim como foi para o apóstolo Paulo. No final de sua vida ele escreveu:

“Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna… se morrermos com ele, também com ele viveremos. Se sofrermos, também com ele reinaremos.” (2 Timóteo 2:10-12).

Rute

E, para finalizar, algumas palavras acerca da bela figura de Rute, do livro que leva seu próprio nome. As semelhanças com o futuro do povo de Israel que encontramos neste livro são impressionantes. Trata-se especialmente do fato de que um remanescente fiel deste povo toma consciência de ter perdido todos os direitos sobre as promessas terrenas (é por isso que este remanescente é representado por uma mulher estrangeira, como Rute, a moabita). Mas ela é aceita em graça para entrar com Cristo no reino milenar de bênção.

No entanto, existem também certas semelhanças entre a história de Rute e a história da Igreja. Esta última é composta em sua maioria dos crentes das nações que, como Rute, estavam “separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa” (Efésios 2:12).

É a infinita bondade de Boaz, uma figura do Redentor Jesus Cristo, que move nossos corações quando pensamos no preço que Ele pagou para adquirir Sua noiva da qual podemos fazer parte. Este preço infinitamente alto é “o precioso sangue de Cristo”, que Ele pagou em resgate da Igreja, Sua noiva, Seu próprio sangue (Atos 20:28; Efésios 5:25; 1 Pedro 1:18-19). Logo serão celebradas as bodas do Cordeiro no céu. Como Rute, só podemos nos prostrar diante do “Divino” Boaz e dizer-lhe:

“Por que achei graça em teus olhos, para que faças caso de mim, sendo eu uma estrangeira?” (Rute 2:10).

Sugestão de Leitura: Estudos sobre o livro de Rute - H. L. H.

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